domingo, 6 de março de 2011

Se não houver mudança. não haverá aprendizado

É muito bom ler livros de auto-ajuda, participar de workshops, fazer terapia ou algum tipo de aconselhamento. Tudo isso contem um potencial para o nosso despertar interior, pode nos ajudar a crescer e expandir a nossa consciência, e pode produzir mudanças profundas em nós. Mas, o que diferencia de um mero potencial ao fato de que esse potencial pode desabrochar, é a nossa disposição em integrar um novo conhecimento em nossas vidas.

A aprendizagem se dá quando colocamos em prática o conhecimento adquirido, ganhamos experiência e percebemos as mudanças. A aprendizagem efetiva produz:
- mudança na estrutura do pensamento;
- mudança no desempenho;
- mudança na conduta;
- mudança de ponto de vista para lidar com os assuntos cotidianos.

Se percebemos que lemos livros e artigos, participamos de workshops, fazemos terapias e aconselhamentos e nada muda em nossa vida é porque não estamos aprendendo, estamos apenas nos informando.

Para que uma informação passe de simples aquisição intelectual ou mero entretenimento a um valor integrado ao nosso modo de pensar e agir, incorporado em nosso cotidiano, melhorando notavelmente a nossa vida, precisamos de alguns ingredientes fundamentais:
- humildade,
- abertura,
- boa disposição,
- vontade,
- compromisso,
- e muita perseverança.

Humildade e abertura. Se quero realmente aprender algo preciso antes reconhecer e aceitar que o que sei não é o bastante ou é incorreto ou é inadequado para o meu momento. Ou mesmo que o que sei não produz os resultados que desejo. Portanto, é preciso estar disposto a implementar as mudanças necessárias para obter os resultados que deseja - com compromisso e perseverança. Este trabalho demanda que nos enfoquemos em incorporar, consciente e deliberadamente, o novo conhecimento ou informação.
Se assim não for, ficaremos indo de informação em informação sem obter resultado prático algum.

Portanto, não basta informar-se sobre algo, é preciso fazer do novo conhecimento uma experiência. Uma grama de prática traz muito mais resultados que mil livros lidos apenas como informação.

Todos, sem exceção, desejamos paz, bem-estar, saúde, equilíbrio, prosperidade e harmonia. No entanto, nem sempre o conseguimos porque o que sabemos, pensamos e fazemos não combinam nem se alinham, isto é, sabemos uma coisa, pensamos outra e fazemos algo ainda diferente. Por exemplo, sabemos que o consumo da carne é a maior causa do desmatamento atual porque gera a necessidade de pastagens cada vez maiores, pensamos que só um pouco de carne nas refeições não vai fazer diferença e fazemos/promovemos churrascos para comemorar aniversários.


Portanto, se não houver mudança, não haverá aprendizado e continuaremos nos indignando com o desmatamento que nós próprios provocamos com nosso comportamento dúbio. Se não houver mudança, continuaremos reclamando que não conseguimos isso e aquilo e continuaremos nos distanciando da vida que realmente queremos para nós.

_ Claudia Giovani

quarta-feira, 2 de março de 2011

A Respiração - por Eckhart Tolle



Podemos descobrir o espaço interior criando lacunas no fluxo de pensamentos.
Sem elas, o pensamento se torna repetitivo, desprovido de inspiração, sem nenhuma centelha criativa - e é assim que ele é para a maioria das pessoas. Não precisamos nos preocupar com a duração dessas lacunas. Alguns segundos bastam. Aos poucos, elas irão aumentar por si mesmas, sem nenhum esforço de nossa parte. Mais importante do que fazer com que sejam longas é cria-las com frequencia para que nossas atividades diárias e nosso fluxo de pensamento sejam entremeados por espaços.

Certa ocasião alguém me mostrou a programação anual de uma grande organização espiritual. Quando a examinei, fiquei impressionado pela rica seleção de seminários e palestras interessantes. A pessoa me perguntou se eu poderia recomendar uma ou duas atividades. "Não sei, não. Todas elas me parecem muito interessantes. Mas eu conheço esta: tome consciencia da sua respiração sempre que puder, toda vez que se lembrar. Faça isso durante um ano e terá uma experiência transformadora bem mais forte do que a participação em qualquer uma dessas atividades. E é de graça."

Tomar consciência da respiração faz com que a atenção se afaste do pensamento e produz espaço. É uma maneira de gerar consciência. Embora a plenitude da consciência já esteja presente como o não-manifestado, estamos aqui para levar a consciência a essa dimensão.

Tome consciência da sua respiração. Observe a sensação do ato de respirar. Sinta o movimento de entrada e saída do ar ocorrendo em seu corpo. Veja como o peito e o abdomen se expandem e se contraem ligeiramente quando você inspira e expira. Basta uma respiração consciente para produir espaço onde antes havia a sucessão initerrupta de pensamentos.

Uma respiração consciente (duas ou três seria ainda melhor) feita muitas vezes ao dia é uma maneira excelente de criar espaços em sua vida. Mesmo que você medite sobre sua respiração por duas horas ou mais, o que é uma prática adotada por algumas pessoas, uma respiração basta para deixa-lo consciente. O resto são lembranças ou expectativas, isto é, pensamentos.

Na verdade, respirar não é algo que façamos, mas algo que testemunhamos. A respiração acontece por si mesma.. Ela é produzida pela inteligência inerente ao corpo. Portanto, basta observá-la. Essa atividade não envolve nem tensão nem esforço. Além disso, note a breve suspensão do fôlego - sobretudo no ponto de parada no fim da expiração - antes de começar a inspirar de novo. Muitas pessoas tem a respiração curta, o que não é natural. Quanto mais tomamos consciência da respiração, mais sua profundidade se estabelece sozinha.

Como a respiração não tem forma própria, ela tem sido equiparada ao espírito - a Vida sem uma forma específica - desde tempos ancestrais. "O Senhor Deus formou, pois, o homem do barro da terra, e inspirou-lhe nas narinas um sopro de vida; e o homem se tornou um ser vivente." A palavra alemã para respiração - atmen - tem origem no termo sânscrito Atman, que significa o espírito divino que nos habita, ou o Deus interior.

O fato de a respiração não ter forma é uma das razões pelas quais a consciência da respiração é uma maneira eficaz de criar espaços na nossa vida, de produzir consciência. Ela é um excelente objeto de meditação justamente porque não é um objeto, não tem contorno nem forma. O outro motivo é que a respiração é um dos mais sutis e aparentemente insignificantes fenômenos, a "menor coisa", que, segundo Nietzsche, constitui a "melhor felicidade". Cabe a você decidir se vai ou não praticar a consciência da respiração como verdadeira meditação formal. No entanto, a meditação formal não substitui o empenho em criar a consciência do espaço na sua vida cotidiana.

Ao tomarmos conciência da respiração, nos vemos forçados a nos concentrar no momento presente - o segredo de toda a transformação interior, espiritual. Sempre que nos tornamos conscientes da respiração, estamos absolutamente no presente. Percebemos também que não conseguimos pensar e nos manter conscientes da respiração ao mesmo tempo.

A respiração consciente suspende a atividade mental. No entanto, longe de estarmos em transe ou semidespertos, permanecemos acordados e alerta. Não ficamos abaixo do nível do pensamento, e sim acima dele. E, se observarmos com mais atenção, veremos que essas duas coisas - nosso pleno estado de presença e a interrupção do pensamento sem a perda da consciência - são, na verdade a mesma coisa: o surgimento da consciência do espaço.

(pg. 211 do livro O Despertar de uma Nova Consciência de Eckhart Tolle - Ed. Sextante)