As contingências da vida não são teus adversários, mas teus aliados. Aprende a recebê-las, mesmo quando te transtornam. A aceitação é a forma mais elevada de Amor. É o «sim» definitivo à experiência sagrada da vida.
Quando tu andas, abandona-te à estrada, com o espírito calmo, sem tensão nem agitação. A marcha é regeneradora. Utiliza-a como uma meditação.
O corpo físico é uma prenda suprema que deves proteger e respeitar. É chamado «corpo precioso» nos ensinamentos do Vajrayana. Toma consciência do milagre da tua existência.
Pergunta-te a ti próprio: «Como posso ajudar os outros?». Reencontra o dom da atenção e da afeição, então os outros crescerão contigo, e conhecerás a alegria e a plenitude do coração.
Abandona-te ao amor, mesmo se não lhe conheceres a finalidade misteriosa. Libertar-te-á do teu medo e cobrirá de sol todos os teus atos.
Aquele que encontrou o seu lugar é semelhante à árvore. Ganha raiz e não se desloca mais.
Afirma positivamente o mundo nos teus atos e nos teus pensamentos. Considera toda a criação com respeito e encantamento.
Felicidade do nômade: aquele que caminha enraíza-se a cada passo que dá. Tem o seu lugar onde quer que se encontre. Renova o amor deslocando-se.
Aceita o mundo tal como é realmente e não como ele se apresenta.
A aceitação de si e a aceitação dos outros são as duas faces de uma mesma moeda. A mesma riqueza.
Aprende a relaxar a tensão dos nervos, a controlar a respiração e o bater do coração, a ver flutuar as sensações sem procurar retê-las. Treina-te ao abandono do corpo e do espírito, se quiseres ganhar o mundo. Só se recebe o que se aceita perder.
Abandonar não quer dizer esquecer, mas tornar presente, sem amarras nem laços. É um ato de libertação. Afrouxam-se os laços, e o mundo que nos rodeia deixa de estar deformado pelas nossas obsessões, os nossos fantasmas. Torna-se de novo livre.
Não deves suportar a tua vida, mas levá-la. Só o amor é capaz de um tal prodígio.
O relaxamento é uma das primeiras formas de abandono. O corpo deixa de lutar contra a atração terrestre. Abandona-te à gravitação, como o fazem todos os astros e todos os corpos celestes.
Relaxar não quer dizer tomar repouso, isolar-te do tumulto ou do barulho, mas acolher o mundo, preparar-se para o receber.
O desapego não é a supressão, a sepultura. Pede uma presença constante no mundo, uma proximidade cada vez maior dos outros, sem intenção, gratuitamente.
Em certas circunstâncias, a vida entrega-se a nós por surpresa, para nos maravilhar. Surge por vezes onde menos se espera; em casa do estrangeiro, ou em casa do teu inimigo. É preciso largar carga, para subir mais alto.
A aceitação oferece um risco muito maior do que o simples fato de amar. Aquele que se abandona não se contenta apenas com amar. Dá-se a si próprio a audácia de o fazer. Empenha-se numa grande aventura.
Aquele que abandona não renuncia. Aceita. O abandono não é um reflexo egoísta, mas um dom de amor. Permite reencontrar os outros, autenticamente, atrás das máscaras, do artifício e da ilusão.
Abandonar-se significa tornar-se livre.
Aprende a renunciar ao que embaraça e faz obstáculo, para melhor acolher o outro. Retira tudo o que se opõe, protege, encerra - tudo o que pode ferir e incomodar o encontro com o outro.
Não nos abandonamos para nos entrincheirar contra o mundo, mas para acolher a alegria, no meio do mundo. Perdendo o inútil, reencontras o essencial.
Abandonar-se ao mundo exige uma vigilância acirrada, um olhar de águia por cima do abismo. Aquele que se mantém constantemente em vigília deixa de cair.
DUGPA RINPOCHE
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